A Doença Renal Crônica (DRC) é uma condição progressiva caracterizada pela perda gradual e irreversível da função renal. O reconhecimento precoce dos mecanismos fisiopatológicos é essencial para enfermeiros que atuam no cuidado de pacientes com DRC, permitindo intervenções eficazes e melhor acompanhamento clínico.
Etiologia e Fatores de Risco
A DRC pode ser causada por condições como diabetes mellitus, hipertensão arterial, glomerulonefrites crônicas, doenças autoimunes (lúpus eritematoso sistêmico) e nefropatias hereditárias (como a doença renal policística). A combinação de múltiplos fatores, incluindo idade avançada, histórico familiar e uso crônico de medicamentos nefrotóxicos, aumenta o risco de progressão da doença.
Mecanismos Fisiopatológicos
Lesão Renal Inicial
A agressão inicial ao tecido renal (glomerular, tubular ou vascular) desencadeia uma resposta inflamatória e imunológica. Isso leva à formação de cicatrizes (esclerose glomerular e fibrose intersticial), comprometendo a função do néfron.
Hipertrofia e Hiperfiltração Compensatória
Com a perda de néfrons funcionais, os néfrons remanescentes entram em um estado de hiperfiltração, tentando compensar a função renal comprometida. Esse mecanismo aumenta a pressão intraglomerular, levando a mais lesões e acelerando a perda de função renal.
Redução Gradual da TFG (Taxa de Filtração Glomerular)
A DRC é classificada em estágios de acordo com a TFG:
Estágio 1: TFG ≥ 90 mL/min/1,73 m² (com lesão renal evidente)
Estágio 2: TFG 60-89 mL/min/1,73 m²
Estágio 3: TFG 30-59 mL/min/1,73 m²
Estágio 4: TFG 15-29 mL/min/1,73 m²
Estágio 5: TFG < 15 mL/min/1,73 m² (doença renal terminal)
Acúmulo de Substâncias Tóxicas
Com a redução da função excretora dos rins, há retenção de produtos nitrogenados (ureia, creatinina) e substâncias tóxicas. Isso contribui para o desenvolvimento da uremia, que pode afetar múltiplos sistemas, incluindo o cardiovascular, neurológico e hematológico.
Alterações Hidroeletrolíticas e Ácido-Base
Hiperpotassemia: O rim comprometido não consegue excretar potássio adequadamente, levando ao risco de arritmias cardíacas.
Hiponatremia: Pode ocorrer por retenção de água.
Acidose metabólica: O rim falha em excretar íons hidrogênio e regenerar bicarbonato, resultando em acidose, que contribui para a desmineralização óssea e catabolismo proteico.
Distúrbios Hormonais
Anemia: Causada pela redução da síntese de eritropoetina, levando à diminuição da produção de glóbulos vermelhos.
Hipocalcemia e Hiperfosfatemia: O rim com função prejudicada não excreta adequadamente o fósforo e não ativa a vitamina D, resultando em hipocalcemia. Essas alterações estimulam a secreção de paratormônio (PTH), levando ao hiperparatireoidismo secundário e ao comprometimento ósseo (osteodistrofia renal).
Implicações para a Prática de Enfermagem
O enfermeiro desempenha um papel fundamental no manejo da DRC, incluindo:
Monitoramento de sinais e sintomas: Avaliação rigorosa de sinais de sobrecarga hídrica, hipertensão arterial, alterações neurológicas e distúrbios eletrolíticos.
Educação do paciente: Orientação sobre a adesão ao tratamento, controle da dieta (restrição de sódio, potássio e proteínas) e importância da hidratação adequada.
Prevenção de complicações: Acompanhamento de infecções, controle rigoroso da pressão arterial e diabetes mellitus, e adesão ao uso de medicamentos prescritos.
Cuidados paliativos: Nos estágios avançados da DRC, o enfermeiro também oferece suporte emocional e cuidados paliativos ao paciente e à família.
Conclusão
A DRC é uma condição multifatorial complexa, que exige uma abordagem multidisciplinar. O papel do enfermeiro vai além da assistência técnica, englobando a educação do paciente e a prevenção de complicações. Compreender a fisiopatologia da DRC permite ao enfermeiro prestar um cuidado integral e baseado em evidências, contribuindo para a melhora da qualidade de vida dos pacientes.
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